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Foto-grafando Frida

Pelos olhos de Frida, ou uma joia para Diego.

Poema inédito de Adriana Versiani,
ilustrado por dana paulinelli.

Diego amava Frida que amava suas joias.
Mas o que significava a palavra "joias" para Frida?
O que Diego entendia daquilo que era o amor de Frida?
Um dia, visitaram juntos o santuário das mariposas monarcas no estado
de Michoacán.
Ali elas vivem.

Ali Diego amou Frida que se despiu de suas jóias.

Na janela do meu quarto, durante a noite em que o céu pareceu perder-se para sempre, com os dedos desenhei uma porta. Através dela toquei os cabelos castanhos da menina que andava comigo, quando ainda imaginava aeroplanos no céu de Coyoacán. Eu contei a ela os meus segredos e dançamos e escutamos nossos sons. Uma ideia nos levou até o pátio onde nos deitamos sob a sombra de uma árvore imensa.

Diego olhou para Frida que mergulhava a roupa suja na noite anterior, dentro da velha bacia de alumínio. Saia uma fuligem preta da chaminé da metalúrgica que cobria toda a cerâmica da varanda. Diego olhou para Frida que escrevia uns versos na cerâmica.

                        Diego... Minha mãe
                        durante todo dia sinto sono cansaço e desespero
                        Diego...Meu pai
                        eu vivo no ar
                        Diego...Meu filho
                        o espelho guarda minha dor
                                                             No meu coração...Diego
                                                             Na minha loucura...Diego
                                                             Nas minhas vértebras...Diego
                        Ele nas tramas do papel
                        Ele no risco do grafite
                        Ele na gênese do metal
No centro dos meus olhos... Diego.
Uma estrutura de ferro sustenta o mural.
Frida dorme sobre a tábua do andaime.
Ela sonha e Diego não adivinha:
os pecados dos seus vizinhos, a caixa enterrada no quintal, a rosa mística de Frida.
Um líquido quente corre em Diego que teme:
os pecados dos seus vizinhos, a caixa enterrada no quintal,
o dia em que Frida dormirá para sempre sobre a tábua do andaime.

                  Tormento, porque chamo por meu Diego?
                  Ele nunca esteve, Ele jamais estará.

Calor escaldante na Cidade do México.
Frida, as pálpebras pintadas de roxo, fechou-se em luto.

Diego a fez chorar.

***
Adriana Versiani dos Anjos – Ouro Preto – MG,1963. Tem cinco livros de poemas publicados, dentre eles, A Física dos Beatles (2005), Conto dos Dias (2007), o virtual Explicação do Fato (2008 – Germina literatura – Revista Virtual) e Livro de Papel (2009). Integrou o Grupo Dazibao de Divinópolis/Belo Horizonte. Foi co-organizadora da Coleção Poesia Orbital e do Jornal Inferno. Fez parte do conselho editorial da Revista de Literatura Ato. É editora do Jornal DEZFACES e colunista do Imaginário Poético. Contato: driarroba@gmail.com

Imagens (de cima para baixo):
(1) sem referência.
(2) (3) Julien Levy, Frida Kahlo, 1938, fotografia, New York.
(4) dana paulinelli, Foto-grafando Frida, 2010, colagem digital  sobre fotografia de Imogen Cunningham (Frida Kahlo, 1931, San Francisco, Califórnia) inspirada em obra de Frida Kahlo (Diego e Eu, 1949, óleo sobre tela, 28 X 22cm, Chicago, Coleção Sam e Carol Wiliams). Clique aqui para conhecer a fotografia de Cunningham e aqui para conhecer a obra de Frida.

Assista abaixo um vídeo emocionante com cenas reais de Frida Kahlo e Diego Rivera. Se você está recebendo este post via e-mail, clique aqui para assistir o vídeo.

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